PARANISMO

Você é paranista?
Se você está relacionando o termo “paranista” ao time de futebol conhecido como “Paraná Clube”, você está enganado, não é de esporte que estamos falando, mas de um movimento pouco conhecido, mas muito importante.

“Paranista é aquele que em terras do Paraná lavrou um campo, vadeou uma floresta, lançou uma ponte, construiu uma máquina, dirigiu uma fábrica, compôs uma estrofe, pintou um quadro, esculpiu uma estátua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou uma injustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou uma árvore”. (MARTINS, Romário in: Trindade e Andreazza, 2001, pg 91).

Certamente a maioria dos paranaenses desconhecem o movimento artístico denominado “Paranismo”, que nasceu no estado, no entanto teve grandes defensores que com garra buscaram dar ao estado o orgulho de suas raizes e a busca por uma identidade particular.

Um movimento artístico é caracterizado por ideias comuns, data de criação, local, participantes e, em alguns casos, por um manifesto. Podemos citar vários exemplos, como o impressionismo, gótico, clássico, cubismo, e tantos outros. E no Paraná baseado em suas características, o Paranismo.

Página da revista "Ilustração Paranaense", veículo por excelência das idéias paranistas, definidas por Romário Martins e desenhadas por João Turin e Lange de Morretes. FONTE: poshistoria.ufpr.br

Na figura acima é possível perceber alguns traços arquitetônicos das ideias desse movimento, onde vemos a pinha esculpida na coluna e temas da flora paranaense.

O  paranismo busca através das artes apontar as principais características do estado, cunhando elementos que representem seu povo, sua fauna e flora.

Foi um movimento de afirmação da cultura paranaense, que surgiu no final do século 19, e sugeria que os artistas utilizassem em suas obras referências locais, como o pinhão, araucária, erva-mate, chimarrão, etc. Elogio mútuo e ênfase em tudo o que fosse paranaense, “mesmo que seja ruim, é nosso”, faziam parte do programa paranista nas artes (pintura, escultura, arquitetura, artesanato, música, arte em geral).

Lange de Morretes, Ghelfi e Turin, após vários estudos, esses artistas criaram uma fórmula geométrica para a representação do pinhão, semente do pinheiro, árvore considerada símbolo do Estado do Paraná . FONTE: http://antropologia.uab.es

Na figura acima podemos ver o pinhão em forma  geométrica que é tão comum aos paranaenses, principalmente aos curitibanos, que convivem com esse elementos em suas calçadas de petit pavé ou ainda em várias pinturas da cidade .

etit pavé formando uma pinha. FONTE: gazetadopovo.com.br

Origens e Pioneiros

O Paranismo foi um movimento regionalista ocorrido entre as décadas de 1920 e 1930, conduzido por um grupo de intelectuais que procurava cultuar e divulgar a história e as tradições do Paraná, incentivando a construção de uma identidade regional, impregnada pela crença no progresso e no desenvolvimento social que foram característicos na Primeira República.

Apesar desta busca pelas raízes paranaenses, o Movimento Paranista acolhia também emissores que não estavam ligados à terra pelo nascimento, mas que eram defensores do processo de Emancipação do Estado, como o mineiro Cruz Machado e o paulista Carneiro de Campos.

O Movimento Paranista contou com a participação de vários literatos como Romário Martins, Euclides Bandeira, Dario Vellozo e Rodrigo Júnior.

Na figura abaixo várias composições e possibilidades de aplicar os elementos paranistas as artes:

Estilização do pinheiro, pinha e pinhões. FONTE: antropologia.uab.es

O primeiro passo para que o paranismo possa ser praticado e divulgado é estudar a História do Estado e da Região. Sem isto não há como criar um romance que identifique este torrão. Não há maneira de identificar o regionalismo sem a paisagem e a geografia para pano de fundo.
O palco do paranismo são os Campos Gerais, tendo por bastidores a sua História. Seu personagem principal é o tropeiro, pilchado e de cuia na mão, seja ele estancieiro, escravo ou peão.

Abaixo imagens que ilustraram a revista “Ilustração Paranaense” em 1928, trazendo personagens pertencentes ao estado ou ainda marcos da cidade de Curitiba, valorizando o povo do Paraná e sua história:

Imagens ”características” de Curitiba. O semeador; Barão do Rio branco e Tiradentes. Ilustração Paranaense, ano II, nº. 1 de 1928. FONTE: poshistoria.ufpr.br

Outras formas de arte também puderam se apoderar da estética paranista, como a ilustração abaixo:

Ilustração da capa da Ilustração Paranaense, ano I, nº. 1 de novembro de 1927. FONTE: poshistoria.ufpr.br

Os indígenas do estado também foram retratados:

Guairacá. Sem data. Escultura. 117,5 x 71,4 x 35,5 cm. Museu Oscar Niemeyer, Curitiba. FOTO: Luis Afonso Salturi.

O pinheiro

O pinheiro realmente esteve presente na maior parte da produção artística dos artistas que viviam no Paraná desde a década de 20 ou 30, quando o Paranismo teve sua ascensão. Continuou presente nas obras de artistas que surgiram posteriormente ao movimento, e continua marcando presença em obras de alguns artistas que atualmente vivem neste Estado. A representação pictórica do pinheiro, da pinha e do pinhão foi tão forte que ultrapassou as telas dos quadros e ganhou as ruas curitibanas e paranaenses. O Paranismo foi responsável pela comunicação visual, na estilização de pinhas, nas calçadas, iluminárias públicas, pilares, etc, até os dias atuais.

Alma da Floresta. 1927-1930. Óleo sobre tela: color; 285 x 245 cm. Assembléia Legislativa do Paraná, Curitiba. FOTO: Luis Afonso Salturi.

Abaixo exemplo da estética paranista aplicada a mobília:

Escrivaninha Paranista. F. Szabo. 1928. Atualmente no Centro de Letras do Paraná. Foto: Lilian Hollanda Gassen, 2007. FONTE: poshistoria.ufpr.br

Abaixo o paranismo aplicado na arquitetura:

Fachada da casa do Dr. Bernard Leinig. Por João Turin. c. 1928. Acervo Casa João Turin. FONTE: poshistoria.ufpr.br

A música também sofre influência do movimento e marca a época com forte aparecimento de canções com temática regional. São canções que falam do campo, das casas, dos rios e principalmente das araucárias. Um exemplo são as canções de Bento Mossurunga: “Ode do pinheiro”, “Virgem do Rocio”, “Tristeza do pinheiro”, etc.

Padrão rítmico do acompanhamento de "Bom dia Paraná" de Beto Mossurunga. FONTE: lume.ufrgs.br

Embora seja um movimento que teve seu auge há décadas atrás, artistas atuais buscam resgatar esse movimento em suas artes. Exemplos disso  são reveladas nas obras de Vera Lília, que resgata os símbolos paranaenses criados pelos paranistas no início do século passado.

Pinheiros, arte em vidro de Vera Lilia. FONTE: sesipr.org.br

Através desse passeio pela história paranista torna-se evidente a importância e o reconhecimento desse movimento em prol da identidade do povo paranaense.

www.orkut.com/Community?cmm=14295

http://antropologia.uab.es/Periferia/Articles/6-salturi.pdf

http://www.sesipr.org.br

http://segundodemusica.wikispaces.com

http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/5393/000514499.pdf?sequence=1